quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Descoberta de um tesouro emocional: NO MAR.

18-08-2011

Paris, França

Quando eu estava prestes a ter minha primeira experiência navegando no Brasil, não sabia ao certo sobre como seria o meu desempenho.
Não é que eu tivesse medo ou insegurança, porque eu sabia exatamente o que eu queria para mim naquele momento. Mas houve aquele frio na barriga, simplesmente a inexperiência de uma simples jovem de 21 anos, recém-formada em jornalismo, apaixonada por fotografia e cinema.

Mas o que me fez esquecer essa dúvida sobre como eu me sairia naquela minha primeira missão POR MAR foi exatamente o meu coração aventureiro, um coracão pronto para qualquer coisa que estivesse em prol da mãe-natureza. Essa era a meu foco primordial até então.

Então eu fui convidada para embarcar no "Arctic Sunrise", um dos três navios do Greenpeace que navega o mundo inteiro para compartilhar a mensagem de preservação. Foi uma oportunidade para trabalhar na próxima campanha em proteção à Amazônia. A campanha começava em março de 2006. Nessa época eu já era voluntária e ativista da ONG por mais de dois anos no Rio de Janeiro. Eu não tive dúvida alguma sobre a minha decisão. O convite foi feito por telefone em uma ligação vinda de São Paulo e imediatamente respondi: "- Embarcar no AS para participar da próxima campanha da Amazônia? Mas é claro! Quando eu posso embarcar?".
Hesitação? Nenhuma! 
A resposta foi: "-Daqui a duas semanas o navio estará no sul do Brasil e começará uma expedição parando em 7 cidades diferentes na costa do país para informar e educar pessoas sobre a crítica situação da floresta. Você embarca quando quiser a partir da chegada do navio no Porto de Santos".

A minha questão:  Porque o mar se tornou parte da minha vida? 
Eu sempre adorei o mar. Nascida e criada no Rio de Janeiro, tinha o hábito de passar todos os finais de semana em família na praia. Lembro de como era gostoso caminhar e nadar com meu pai na Praia do Arpoador, em Copacabana - onde ele passou maior parte da sua vida. Alguns anos depois, eu tive o privilégio de até mesmo morar de frente ao mar... então a minha relação com o oceano,o infinito e o horizonte sempre foi familiar.
Nos meus momentos mais íntimos, aqueles cheios de reflexões, eu sempre ia para o alto de uma pedra solitária em alguma praia para visualizar o oceano. Sempre achei fascinante a estatística e realidade de que 97% de água contida na Terra está nos oceanos, cobrindo três quartos de superfície na Terra. Não é incrível?

Pouco a pouco, durante as horas que passava de guarda na ponte de comando, eu fui aprendrendo sobre navegação entre uma cidade e outra que paravamos. No início eu ficava lembrando de todos os exploradores antigos que eu conhecia. Reflitia por horas em cada um deles... pensava em como eles foram bravos e fortes para se lançar no mar com tão pouco e conseguir descobrir novos pedaços de terra. A partir daquele momento eu comecei a ter muito mais respeito sobre os navegadores que nos deixaram tantas histórias ricas em aventura e extrema coragem.

As questões que tinha sobre meu desempenho no mar, logo se diluíram e finalmente eu me dei conta de que aquele Universo já fazia parte de mim, eu apenas não sabia. Então eu posso dizer que foi para mim uma verdadeira descoberta de um tesouro. Mas um tesouro interno, uma emoção, um forte sentimento. A sensação de liberdade completa. Um tesouro emocional.
Descobri que no mar, eu sou menor do que imaginava de quando eu estava em terra.
Descobri que desde o mar, às vezes eu posso fazer muito mais do que em terra.

(Re)aprendi valores essenciais sobre a vida:
Sobre o que se perde e o que ganha ...  que tudo pode ser muito relativo e que tudo pode mudar repentinamente. Assim como a direção do vento, e até mesmo a nossa relação com o tempo.

Foi através dessa imensa sensação de liberdade que o mar me trouxe, e também por me dar conta de que através das minhas ações desde os oceanos eu poderia estar fazendo algo pelo Planeta diariamente, que continuei outras campanhas com o Greenpeace e depois de alguns anos finalmente, a transição para a ONG Sea Shepherd.
Graças a essa motivação pela proteção da natureza, eu fui levada à primeira longa viagem por mar no Brasil (depois alcançando novos oceanos e novas missões internacionalmente), onde encontrei completa afinidade com esse estilo de vida, indo sempre dos trópicos aos árticos.

E inspirada nessa veia de toda navegadora que adora exploradorar novos horizontes, sobretudo no Pólo Sul, deixo como exemplo a história de um aventureiro francês que descobri recentemente aqui em Paris através de um amigo.

As expedições de Jean-Louis Etienne me inspiraram no dia de hoje e através dessa motivação que vejo nele e em outros navegadores, eu me dou conta da importância que o mar exerce sobre a minha vida!

http://jeanlouisetienne.com/biographie.cfm
http://jeanlouisetienne.com/

Bons ventos a todos!

Barbara Veiga
www.barbaraveiga.com

-Antártida, março 2011-
Photo Courtesy: Ian McGlocklin.

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