quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Histórias do mar

Paris, 
setembro 2011

- As memórias do Golfo do Aden -

Ontem eu tive um jantar com meu amigo francês Antoine Montagne, e falamos sobre nossas perigosas aventuras nas nossas viagens pela África. Cada um com seu país e experiência. Então eu lembrei imediatamente de um episódio quando passava pelo Golfo do Aden.
Eu estava fazendo apinéia quando de repente percebi que havia um grupo de homens em um barco de cor vermelha e um motor de 250cv que se aproximava do Papaya, veleio que morei e viajei por alguns países saindo da Ásia até a Europa.

O barco vermelho se aproximou do Papaya, colocou a âncora e com o motor já parado, um dos tripulantes estava prestes a embarcar no veleiro. Fiquei aterrorizada, e rapidamente peguei o dingue para retornar ao Papaya e defender território. A distância não era grande, então cheguei à tempo antes que o tipo estranho embarcasse na minha "casa".

A primeira iniciativa foi pegar o rádio e informar os outros velejadores que estavam há algumas milhas de distância para nos socorrer. Em seguida, o desafio foi saber como interagir com os "estranhos". Procurei pensar que eram apenas pescadores, pessoas que simplesmente buscavam o que comer e beber.
Não sabia a origem deles. Ninguém falava inglês, francês ou um idioma que eu pudesse rapidamente identificar. Eles poderiam vir do Iêmen ou Somália, pensei! 

A tensão aumentava quando tentavamos nos comunicar com eles. Era uma comunicação agressiva, de quem manda e não sabe pedir. Ao mesmo tempo não havia resposta no rádio dos velejadores franceses que eu havia contactado e sabia que estavam pelas redondezas. A solução foi  para mim foi oferecer leite, água e alguns biscoitos. Nada de álcool, afinal era raro termos álcool a bordo do Papaya.

Passados cerca de 20 minutos, finalmente houve uma resposta no rádio. Era um dos navegadores que conhecíamos que estava há 15 milhas de distância. Ufa! 
Um dos "pescadores" ou chamados por muitos como "piratas", mostrou que havia um problema, uma espécie de infecção e precisava de ajuda medical. O problema era o local da sua infecção. Ele tocava a água com suas mãos, pousava em frente ao seu orgão genital e pelo que entendi, saía pûs ou algo do gênero. Ele parecia muito doente, um aspecto quase que inconsciente. Ele era magérrimo. Os outros pouco falaram, mas seus olhares eram de desespero.

Imediatamente fui buscar medicamento que havia no barco, um antibiótico normal. Expliquei com gestos que para consumir um comprimido pela manhã(ao nascer do sol) e outro a noite(na hora de dormir). Era o melhor que poderia fazer.

O leite que ofereci era de caixinha. Havia muitas caixas, então achei que poderia ser uma boa solução. compartilhar. Ainda lembro da forma em que este mesmo homem da infecçnao me olhou, depois olhou para a caixa de leite. Parecia que ele nunca tinha visto antes. Aparentemente o único acesso ao leite que eles tem é em pó, porque dura mais tempo.

Os velejadores franceses, amigos que também faziam o mesmo trajeto chegaram. Era a hora do pôr do sol. Tive a sorte de que os "piratas" decidiram partir e se contentaram com comida, leite e água. Foi tenso, mas nos saímos bem. Uma história que jamais vou me esquecer. Estava ancorada no meio de uma pequena ilha, longe da costa e de qualquer acesso à civilização.

Em momentos como esse que me vejo como sou frágil. Mesmo no meio da natureza, no meio do mar, estamos sujeitos ao crime, a violação e à imposição. O mundo precisa de ajuda! A Natureza sim, mas os homens também.

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Bárbara Veiga.




segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Inspiração nas Mulheres do Mar II

Setembro de 2011,
Desde Paris...

A inspiração do dia no tema "mulheres do mar" vai hoje para Beth Thoren.
Uma inglesa de quarenta e poucos anos e cheia de multi talentos na sua vida plena de aventuras.
Eu sempre fico encucada em falar a idade das mulheres do mar, porque sei o quanto essa "revelação" pode ser polêmica para certas pessoas. Porém ao mesmo tempo, como eu vejo enormes contrastes entre uma e outra que me inspira, acho importante dar um pouco de detalhes da sua história e experiência de vida.
E (in)felizmente às vezes(nem sempre), a idade pode mostrar certas marcas que a vida deixa com o tempo. É claro que depende da flexibilidade e abertura que cada um dá para novas oportunidades, novos passos, novas escolhas.
Beth normalmente trabalha com publicidade de empresas de grande porte, gerenciando renomados projetos, mas quando ela está a bordo do navio da Sea Shepherd ela trabalha como engenheira.
Assim que nos conhecemos a afinidade foi imediata. Ela é uma pessoa sensível, verdadeira, trabalhadora e cheia de garra. Sua determinação para fazer algo de eficaz pela natureza é inspiradora. Nunca vou esquecer essa bela amizade que se construiu no Oceano Austral. Ainda não sabemos quando vamos nos reencontrar, mas sabemos que essa amizade e admiração perdurará.

Na sala de máquinas, Beth está à trabalho junto ao engenheiro-chefe Stephen. A cada 15 minutos ela verifica todas as máquinas para ver se há um vazamento de óleo, super aquecimento ou qualquer dificuldade. Ela faz duas guardas de 4hs cada por dia, sem ter dias de folga. Não existe "day-off" nos navios da Sea Shepherd.

Durante o treinamento com a tripulação, Beth mostra as saídas de emergência no caso de haver fogo na sala de máquinas. Após o treinamento no "lounge", Beth divide a tripulação em grupos para fazer uma visita no lado mais barulhento e sujo do navio. :)


Beth observa desde o convés com outras tripulantes, as baleias que dançam entre os icebergues. 
Sensação plena de paz e recompensa por  saber que está fazendo a coisa certa.


No fim da sua guarda, Beth visita a ponte de comando para saber os desafios da rota e as estratégias para a próxima ação contra os baleeiros. É evidente sua felicidade ao saber que mais um navio da frota baleeira foi encontrado por um dos navios da SSCS "Bob Barker". O navio baleeiro encontrado neste dia foi o "Nisshin Maru".


Às 7h durante seu café da manhã e seu pequeno momento de leitura.

Aproveitando os raros momentos de sol e calmaria, ela aproveita suas horas livres na proa do navio....

... Mas ela adora também fazer caminhadas no convés do navio. Isso mesmo, caminhadas! Mesmo havendo a limitação de 60 metros ao redor dela, isso não impede que ela faça suas caminhadas em círculos rotativos. Mesmo nos dias com meteorologias menos favoráveis, lá estava ela! Para sair da rotina, eu confesso que a acompanhei algumas vezes nessa interessante e inovadora aventura de fazer caminhadas no navio (que normalmente em Paris acontecem no Parque Luxembourg) durante os dias de calmaria, mas ao mesmo tempo muita busca pelos navios baleeiros.

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Por Barbara Veiga

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Celebrating Love & Peace !

Paris, Setembro 2011.

No dia 17 de setembro eu tive o grande privilégio de celebrar/fotografar a união de Ole e Anya, dois novos amigos e colegas de profissão aqui na França. De origem russa e norueguesa, eles são repórteres de emergência em causas humanitárias, percorrendo o mundo com a missão de compartilhar uma mensagem de paz e justiça.
Eles se conheceram em Georgia há alguns anos atrás e mesmo no meio do caótico conflito do país com a Rússia, eles descretaram ali essa bonita história de amor no engajamento jornalístico para documentar o estado do país.

O evento "Love celebration" foi criado pela amiga Alma Mecattaf. Uma grande mulher, com coração nobre e acolhedor. 
Esse foi o privilégio do meu final de semana! Estar em contato com pessoas que vieram aqui no planeta para fazer a diferença.

Entrar em ação vem com a determinação !
É ter consciência de fazer algo para si e o próximo!


Ole e Anya (Repórteres do "Human Right Watch") oficializando a união na França entre amigos.



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Barbara Veiga. 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Último dia de exposição da National Geographic !

14/09/2011


Atenção, Atenção! 

Para os que não tiveram tempo durante os últimos três meses para dar uma conferida na exposição organizada pela National Geographic e o Museu de História Natural, hoje é a última chance!
Espero contar com a presença  de vocês aqui em Paris! 

Barbara Veiga.

Link: http://www.photoparnature.com/exposition

Du 24 juin au 14 septembre 2011, rendez-vous au Jardin des Plantes pour l’exposition « Photo par Nature »

No Brasil: Saiu no Globo.com

Link: http://oglobo.globo.com/blogs/imensidao/posts/2011/09/04/fotografa-da-natureza-ativista-revela-fotos-de-investigaca-disfacada-402522.asp


FÓTOGRAFA DA NATUREZA E ATIVISTA REVELA FOTOS DE INVESTIGAÇÃ DISFAÇADA

A Ativista, fotógrafa da natureza e guerreira do mar Bárbara Veiga mostra a primeira série de fotos sobre as Ilhas Feroe, na Dinamarca. Já escrevi sobre este verdadeiro assassinato em massa aqui no Imensidão...
Este ano, mais uma vez este crime ameaça a vida dos magníficos animais.
Desta vez, foi a Bárbara que se disfarçou para gerar as imagens, que reproduzo abaixo. E para os que como eu são apaixonados por fotografia, podem seguir a Bárbara por aqui:
Conversando com a Bárbara, ela me falou das principais dificuldades de estar como espiã, ver os navios da Sea Shepherd e não poder falar com os ativistas... Além de precisar fingir, fazer de conta, interagir com pessoas que não fazem parte do "mundo do bem", que matam indiscriminadamente...
São estas situações que a maioria das pessoas não imagina que um agente disfarçado passa. Tem que ter um coração forte e segurar o sangue frio, para não revelar o disfarce e colocar toda a operação em risco.
E tudo isto para poder passar informacoes privilegiadas para a equipe de frente dos navios...
Como se a sua carreira não bastasse (e basta por si só, por tudo que vc já fez), este trabalho por si só já justifica:
Bábara Veiga, MEUS PARABÉNS  pela dedicação e luta pelos oceanos e seus habitantes! Vc é um exemplo de coragem, de ativismo e humanidade para com nosso planeta!
Yo Ho Bárbara Veiga!!!!